Da Technische Universität de Berlim, a equipe Reclaiming Heritage projetou um modelo de habitação de reconstrução no Haiti que foi o vencedor do concurso “Haiti Ideas Challenge” promovido pela ACSA (Associação Norte-Americana de Escolas de Arquitetura) em setembro de 2011. O projeto para o Haiti parte da reutilização das fundações existentes e suficientemente resistentes para conservar o traçado das habitações originais, tornando os novos espaços reconhecíveis aos usuários. A tipologia é baseada na análise das habitações tradicionais haitianas, e concretamente, na configuração das casas tipo Kay.
Nas vistas aéreas e nas distintas imagens que chegam do Haiti depois do terremoto, percebe-se que a maior parte das habitações caiu. Olhando mais de perto, é possível ver que há restos de cimentações e paredes por toda parte. O único patrimônio que resta são as ruínas. Os restos e os escombros têm sido os maiores obstáculos aos esforços de reconstrução, porém têm um valor potencial para ela, explorado nessa proposta: usa-se esse mesmo material, a recuperação das fundações e os restos aproveitáveis das paredes como critério principal para o projeto, resgatando as tipologias básicas e integrando o característico estilo de vida haitiano de portas para fora em um projeto flexível, capaz de se adaptar, não somente à nossa localização específica, mas também às zonas do Haiti.
Propomos uma nova casa, construída mediante a reutilização dos cimentos existentes e os materiais processados das paredes caídas, sobrepondo um espaço fechado de 30 metros quadrados que pode ser ampliando, resultando em uma habitação de entre 60-70 metros quadrados com espaços semiprivados. Com este objetivo, desenvolvemos uma estratégia para as ruínas: se as paredes ainda se mantem são reforçadas, para que sejam estruturais e possam sustentar o peso do módulo.
Mais que reciclar os materiais, propomos a recuperação da herança cultural intrínseca neles. Reconhecendo que a maior parte das interações sociais e culturais no Haiti acontece em espaços abertos e exteriores (públicos ou semipúblicos), trabalhamos com os espaços que definem as construções desocupando ou adicionando distintos níveis de terra, para assim, definir claramente uma hierarquia espacial, na qual são incluídos espaços abertos de cozinha (com um coletor de água integrado), quartos, oficinas e um banheiro básico.
A casa é uma adaptação da tipologia “Kay” haitiana, feita com uma estrutura principal de madeira (vinculando estrutura e construções preexistentes), fechamentos de bambu, cobertura dupla, para uma ventilação melhorada e uma varanda delimitada por uma gelosia de bambu. No entanto, pode ser adaptado a outro tipo de materiais, devido a seu caráter flexível. Oferece a possibilidade de adaptar-se a distintos casos, dependendo do orçamento disponível (desde a construção da cobertura e a definição dos espaços preexistentes até um módulo plenamente desenvolvido como um espaço de armazenamento).